PLANO DE AULA DE
LITERATURA
Colégio ou escola:
Turma: Qualquer uma do 1º ano
do ensino médio.
Professor: Márcio Alessandro de
Oliveira.
Data: /
/ .
Duração da aula: Uma hora e quarenta minutos.
Recursos: Para a exposição da
matéria de que tratará a aula: lousa e giz.
(Na falta destes, quadro branco e marcador.) Para a atividade em sala: fotocópias para a
leitura de poemas adicionados a este plano.
Serão necessários dois recursos: projetor, para exibição de pinturas,
esculturas, o texto que pode ser levado ao quadro, caso o professor queira
exibi-lo na forma de slides, e rádio,
para a reprodução de música barroca.
Tema e título da aula: Barroco (seiscentismo ou rococó) em Portugal e no Brasil.
Unidade didática: Barroco.
Atividades em sala: Leitura dos poemas
selecionados e adicionados a este documento e resolução de questões (das quais
a segunda é passível de anulação).
Atividades para o lar: Atividades ou questões
do livro didático e leitura do texto A
retórica falada usada como cabresto.
Pré-requisitos: Conhecimentos sobre: índices,
ícones, símbolos, linguagens não verbais, língua, conceitos de literatura,
literariedade, sistema simbólico, sistema literário, estilo (escola) de época, diferenças
entre prosa e poesia, Renascimento e Classicismo.
Objetivo geral: Expor, em linhas
gerais, o Barroco como escola e seu contexto histórico, para que os sentidos
dos textos sejam construídos com os subsídios apresentados em forma de datas e
fatos históricos que condicionam a arte.
(Crítica ao objetivo: Na aula
de Literatura, deveria o texto literário ser o centro de gravidade da aula, e
por isso a próxima deve se concentrar nos escritos selecionados.)
Objetivos específicos:
1º: apontar o Maneirismo e
conceituar o Barroco de acordo com a possível significado original do nome;
2º: enumerar artes barrocas
e alguns nomes importantes a elas vinculados;
3º: enunciar os marcos
inicial e final nos dois países (Portugal e Brasil);
4ª: apontar fatos
históricos que podem ter condicionado as manifestações literárias barrocas em
ambos os países;
5º: denominar algumas das
características da literatura barroca, como a influência de Luís de Gôngora y
Argote;
6º: mencionar autores,
biografias, obras e reação do público de suas épocas. (Não é só o contexto histórico que condiciona
a literatura: para Todorov, a vida do autor também faz isso.)
Conteúdo: Toda a matéria do texto
que será levado à lousa (ou à tela do projetor).
Desenvolvimento: O professor inicia a
aula com os cumprimentos de etiqueta elementar, seguidos da revisão da matéria
anterior, da correção dos exercícios e da verificação do cumprimento dos
pré-requisitos necessários à compreensão da aula de que trata este
documento. Terminadas essas etapas, começa
a copiar no quadro o texto que contém a matéria tentando alternar a atenção
(caso não use o projetor): num momento olha para o quadro, em outro, para a
turma. Tenta dar, de viva voz, as
explicações intercaladas entre parênteses (que funcionam mais ou menos como
rubricas de um script) com o texto
que será exposto na lousa. No fim da
aula, o professor distribui folhas de exercícios, indica atividades do livro
didático adotado pela escola e expõe os requisitos da próxima aula, cujo tema é
o Arcadismo.
Referências
bibliográficas:
CÂNDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade. 9ª edição,
revista pelo autor. Rio de Janeiro: Ouro
sobre Azul, 2006.
CARVALHO, Luiz Fernando Medeiros; COUBE, Fabio Marchon. Aula 1
- As muitas vozes da persona satírica na poesia atribuída a Gregório de Matos. In.: Literatura
Brasileira II. Rio de Janeiro: Fundação
Cecierj, 2014.
COTRIM, Gilberto.
História Global: Brasil e Geral (vol. único). 8ª edição.
São Paulo: Saraiva, 2005.
FARACO, Carlos Emílio; MOURA, Francisco Mato. Literatura
Brasileira. 17ª edição, São Paulo:
Editora Ática, 2003.
INFANTE, Ulisses. Curso de Literatura de Língua Portuguesa. 1ª edição, São Paulo: Scipione, 2001.
LOIVOS, Anabelle; PASCHE, Marcos; PIETRANI, Anélia. Aula 1 – Do Barroco e sua permanência no
tempo que trota a toda ligeireza.
In.: Literatura Brasileira V:
Tradição e ruptura. Rio de Janeiro:
Fundação Cecierj, 2015.
OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de; REIS, Benedicta Aparecida
Costa dos. Minimanual Compacto de Literatura Portuguesa: teoria e prática. 1ª edição.
São Paulo: Rideel, 2003.
TUFANO, Douglas. Estudos de Literatura Brasileira. 2ª edição.
São Paulo: Editora Moderna, 1978.
MATOS, Gregório. Obras
completas de Gregório de Matos. Crônica
do viver baiano seiscentista: VI Volume.
Coleção Os baianos. Salvador, BA,
Editora Janaína Ltda..
VERISSIMO, Erico. Breve
história da literatura brasileira.
3ª edição. São Paulo: Globo,
1996. Tradução: Maria da Glória
Bordini. (Título original: Brazilian literature an outline.)
(Texto
para quadro.)
BARROCO (SEISCENTISMO OU
ROCOCÓ) EM PORTUGAL E NO BRASIL (último período do Renascimento)
1.
Maneirismo: Para alguns, Maneirismo
é a transição entre o Classicismo e o Barroco, cujo nome, que poderia ser
associado ao mau gosto e ao exagero, significaria pérola de formato irregular.
2.
Artes barrocas além da literatura:
Pintura: Caravaggio, autor de Vocação de São Mateus.
Música:
Vivaldi (italiano) e Johann Sebastian Bach (alemão), autor de Toccata in D Minor.
Escultura:
Aleijadinho.
3.
Marcos iniciais e finais da literatura barroca:
Portugal:
Início: 1580, ano da morte de Camões.
Fim: 1756, ano da fundação da Arcádia Lusitana.
Brasil:
Início: Prosopopeia
(1601), de Bento Teixeira (1561-1600).
(O texto é imitação barata de Os
Lusíadas, e foi feito em homenagem a Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro
donatário da capitania de Pernambuco.)
Fim: 1768, ano da publicação de Obras,
de Cláudio Manuel da Costa (MG, 5/6/1729-MG, 4/7/1789).
4. Contexto histórico:
4.1. Portugal:
Estados absolutistas;
Contrarreforma: Companhia de Jesus e Concílio de Trento;
desaparecimento do rei D. Sebastião em Alcácer-Quibir (1580);
domínio espanhol sobre Portugal (1580-1640).
4.2. Brasil:
capitanias
hereditárias (até 1759);
governo
geral (a partir de 1759).
5.
Características da literatura
barroca:
influência de Luís de Gôngora y Argote (1561-1627);
linguagem rebuscada: uso de
jogos de palavras e de construção para a experiência sensorial: cultismo
(gongorismo ou culteranismo);
rebuscamento do conteúdo pela conciliação de opostos:
conceptismo;
teocentrismo X antropocentrismo;
oposição à sobriedade e ao racionalismo do Renascimento;
conteúdo religioso;
sátira.
6.
Autores, coletâneas e academias:
Portugal:
Autores (poetas):
Francisco Rodrigues Lobo;
Antônio Barbosa Bacelar;
Francisco de Vasconcelos;
Jerônimo Baía;
Tomás Pinto Brandão;
Soror Violante do Céu
(poetisa).
Coletâneas:
Fênix renascida (cinco volumes);
Postilhão de Apolo (dois volumes).
Academias (de Lisboa):
Academia dos Singulares;
Academia dos Generosos.
Brasil:
Autores e obras:
Antônio Vieira (padre) (Portugal,1608; Bahia, 1697).
Produções que se destacam: Sermão
da Sexagésima e História do Futuro.
Características: parenética, sebastianismo, cultismo, conceptismo,
escravidão, invasão holandesa e defesa dos judeus e cristãos-novos.
Gênero: sermão.
Gregório de Matos, o Boca de Brasa ou Boca do Inferno (Salvador,
1633; Recife, 1696).
Características: sátira, religiosidade, cultismo e conceptismo.
Gênero: poesia satírica.
QUESTÕES DE VESTIBULAR* E ENEM
Aluno(a):____________________________________________________________
Turma:_____________
1.
(Centec-BA) Não é
característica do Barroco a:
a)
preferência pelos aspectos científicos da vida.
b)
tentativa de reunir, num todo, realidades contraditórias.
c)
angústia diante da transitoriedade da vida.
d)
preferência pelos aspectos cruéis, dolorosos e sangrentos do
mundo, numa tentativa de mostrar ao homem a sua miséria.
e)
intenção de exprimir intensamente o sentido da existência,
expressa no abuso da hipérbole.
2.
(FCMSC-SP) A preocupação com a brevidade da vida induz o
poeta barroco a assumir uma atitude que:
a)
descrê da misericórdia divina e contesta os valores da
religião.
b)
desiste de lutar contra o tempo, menosprezando a mocidade e
a beleza.
c)
se deixa subjugar pelo desânimo e pela apatia dos céticos.
d)
se revolta contra os insondáveis designíos de Deus.
e)
quer gozar ao máximo seus dias, enquanto a mocidade dure.
3.
(Positivo-PR) O estilo rebuscado que retrata os dilemas
entre os apelos de ordem espiritual e os atrativos de ordem material, mais o
exagero no emprego dos recursos estilísticos, são características da escola:
a)
barroca
b)
arcádica
c)
romântica
d)
realista
e)
modernista
Questão 111 do Enem 2014 (extraída do
sítio Conversa de Português)
Quando Deus redimiu da
tirania
Da mão do Faraó
endurecido
O Povo Hebreu amado, e
esclarecido,
Páscoa ficou da redenção
o dia.
Páscoa de flores, dia de
alegria
Àquele povo foi tão
afligido
O dia, em que por Deus
foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor,
Deus da Bahia.
Pois mandado pela Alta
Majestade
Nos remiu de tão triste
cativeiro,
Nos livrou de tão vil
calamidade.
Quem pode ser senão um
verdadeiro
Deus, que veio estirpar
desta cidade
o Faraó do povo
brasileiro.
(DAMASCENO, D. Melhores poemas: Gregório de Matos. São Paulo: 2006.)
Com uma elaboração de linguagem e uma
visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos apresenta temática expressa por
(A) visão cética sobre as relações sociais.
(B) preocupação com a identidade brasileira.
(C) crítica velada à forma de governo vigente.
(D) reflexão sobre dogmas do Cristianismo.
(E) questionamento das práticas pagãs
na Bahia.
(*) As três primeiras questões foram
extraídas do Minimanual Compacto de
Literatura Portuguesa: teoria e prática, de Ana Tereza Pinto de Oliveira e
Benedicta Aparecida Costa dos Reis. 1ª edição.
São Paulo: Rideel, 2003.
(Gabarito: a; e; a; c.)
POEMAS DE GREGÓRIO DE MATOS
QUERIA O POETA DIVERTIR SEUS AMOROSOS
INCÊNDIOS
COM UMA MOÇA ALI ASSISTENTE, E PEDINDO-LHE ESTA
DINHEIRO ANTECIPADAMENTE, ELE LHE RESPONDEU
COM ESTAS
DÉCIMAS
1
Eu perco,
Nise, o sossego,
E não
posso isto entender,
Pois vos queixais de não
ver,
E eu sou
triste, o que ando cego:
Que heis de ver? Se do
pespêgo,
Fugis com ligeiro passo?
Não corrais, um breve
espaço:
parai: não vos ausenteis,
deitai-vos, que vós
vereis,
mais vereis, o que eu vos faço.
2
Eu sou vosso companheiro
nestas cegueiras ímpias,
pois há mais de trinta
dias,
que não posso ver dinheiro:
eu não sou home
embusteiro,
hei de vos satisfazer,
e se quereis corriger
a vista sem mais antolhos,
esfregai mui bem os olhos
e esfregada haveis de ver.
3
Não me trazeis vós tão farto
que vos deva eu um
vintém,
e em Parnamerim ninguém
paga à puta antes do
parto:
vós não me entrais no meu
quarto,
nem eu os quartos vos
bato,
e não sou tão insensato,
que ainda que faminto
ando,
vos vá o pato pagando,
se sei que outro coma o
pato.
4
Desta sorte, Nise ingrata,
de querer de antemão ver,
temo, que sempre heis de
ter
na vista essa catarata:
não vereis ouro, nem
prata,
e pois vos desassossega,
o jimbo, que se vos nega,
nunca, Nise, o heis de
ver,
porque do muito querer,
de faminta estais tão
cega.
Fonte: Gregório de Matos.
Obras completas de Gregório de
Matos. Crônica do viver baiano
seiscentista: VI Volume. Coleção Os
baianos. Salvador, BA, Editora Janaína
Ltda.. Atualizada a grafia de acordo com
as normas vigentes em 2016.
Descreve o que era
realmente naquele tempo a cidade da Bahia de mais enredada por menos confusa
A cada
canto um grande conselheiro,
Que nos
quer governar a cabana, e vinha,
Não sabem
governar sua cozinha,
E podem
governar o mundo inteiro.
Em cada
porta um bem frequentado olheiro,
Que a vida
do vizinho, e da vizinha
Pesquisa,
escuta, espreita e esquadrinha,
Para a
levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos mulatos
desavergonhados,
Trazidos os
pés dos homens nobres,
Postas nas
palmas toda a picardia.
Estupendas
usuras nos mercados,
Todos, os
que não furtam, muito pobres,
E eis aqui
a cidade da Bahia.
Fonte: MATOS, Gregório de. Obra
Poética. 2 ed. Rio de Janeiro: Record, 1990, v.1, p.
33. Apud: INFANTE, Ulisses. Curso
de Literatura de Língua Portuguesa.
1ª edição, São Paulo: Scipione, 2001, p. 165.
A RETÓRICA FALADA USADA COMO CABRESTO
“Há de tomar (...) uma só
matéria, há de defini-la (...), há de dividi-la (...), há de prová-la (...), há
de declará-la com a razão, há de confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la
com as causas, com os efeitos (...), há de impugnar e refutar (...) os
argumentos contrários. (...) e o que não é isto é falar de mais alto.” (Padre Antônio Vieira,
mencionado por Ulisses Infante em Curso
de Literatura de Língua Portuguesa.)
Pastores evangélicos contam com um
poderoso instrumento de persuasão e controle: a palavra falada, que é muito
diferente da palavra escrita. Esta não
conta nem com as inflexões de voz, nem com os gritos, nem com os gestos
corporais. Essas linguagens não-verbais
são poderosos instrumentos que auxiliam o discurso falado e, portanto, o ofício
de dominar rebanhos de espíritos pobres, doentes, iletrados e pouco críticos
que vão à igreja.
Como muitos dos pastores são iletrados,
é natural que usem a oratória, e não a retórica escrita. Contudo, mesmo se fossem mais cultos, não se
atreveriam a depositar suas chances de ascensão e dominação apenas nos
discursos redigidos: a plebe rude que manipulam não lê, e, para eles, isso é
muito vantajoso, pois que podem recorrer à retumbância, ao impacto da entonação
e do grito (que continuariam a ser as suas ferramentas preferidas mesmo se os
manipulados fossem leitores; a prova disso é Hitler, que não dependeu do seu
livro, Minha Luta, para dominar a
Alemanha: dependeu da oratória hipnótica).
Independentemente do grau de letramento do pastor, para ele é
indispensável a oratória inflamada.
Um exemplo: Se eu escrevo: “Conseguimos um crescimento de apenas 1%, enquanto os
outros países conseguiram um de 30%”, há informação pura e simples: não comove
(com exceção de casos de pessoas que dependam de um crescimento muito acima de
1% para evitar um ataque do coração, por exemplo) nem influencia a opinião do
leitor de forma muito explícita. Mas se
eu falo: “Conseguimos um crescimento
de apenas [aqui a voz fica baixa e fina;
o rosto se contorce] 1%, enquanto os outros países conseguiram um de [aqui o falante aumenta o tom da voz sem
deixar de erguer as sobrancelhas] 30.”
Essa técnica os pastores conhecem, e levaram-na ao extremo. O “30” fica destacado, o ouvinte perde a
capacidade de pensar na diferença entre porcentagens e números reais e se deixa
levar pelo sentimento que cega.
Não é de surpreender que prefiram os
sacerdotes protestantes a oratória à redação: herdaram dos judeus o hábito de
valorizar a audição para “ouvir a voz de Deus”, ao passo que a visão, sentido
que, segundo leio, era mais valorizado pelos gregos, ficou em segundo
plano. Mas é pela audição que vem a
cegueira.
Conclamo que todos os professores de
língua se rebelem contra a manipulação dos pastores. É fundamental que esclareçamos os espíritos
para que não sejam possuídos pelas ideias danosas das igrejas. Para isso, é fundamental uma educação
linguística de qualidade, uma educação que contemple a prática de bem falar e a
de bem escrever aliadas à dialética e à dialógica: só elas podem evitar que
inocentes caiam nas armadilhas de quem só convence por falar mais alto.
(Márcio Alessandro de Oliveira. Duque
de Caxias, 30/5/2015. Publicado originalmente no Facebook.)