sábado, 8 de maio de 2021

MITO E LENDA

                                                      


        “Num mundo que é exatamente o nosso, aquele que conhecemos, sem diabos, sílfides nem vampiros, produz-se um acontecimento [como o surgimento de um fantasma ou de uma assombração] que não pode ser explicado pelas leis deste mesmo mundo familiar. Aquele que o percebe deve optar por uma das duas soluções possíveis; ou se trata de uma ilusão dos sentidos, de um produto da imaginação e nesse caso as leis do mundo continuam a ser o que são; ou então o acontecimento realmente ocorreu, é parte integrante da realidade, mas nesse caso a realidade é desconhecida para nós [...].”

 

(Tzvetan Todorov, 2017, p. 30.)

 

“É legítimo observar, no interior de um texto, a relação que se estabelece entre a cor do rosto de um fantasma, a forma do alçapão pelo qual desaparece, o odor singular que deixa este desaparecimento.”

 

 (Idem, ibidem, p. 151.)

 

            INTRODUÇÃO      

 

            Que é mito? Que é lenda? Que é mito fundador? Quais são os tipos de fantástico? Qual a diferença entre o pensamento mítico (mitológico) e o filosófico? Qual a causa da Guerra de Troia? Qual a relação entre os mitos e a ideologia? Que é ideologia? Feminismo é ideologia? Nesta aula, tentaremos descobrir — nós, que vivemos num mundo marcado pela lógica, pela razão e pela ciência, e não pela crença em vários deuses — respostas.

 

Prezados alunos:      

 

Como estão? Espero que bem.

Dirijo-me a vocês para expor e exemplificar dois conceitos (ainda que as definições não sejam tão boas): o de mito e o de lenda. Vejamos algumas definições da palavra mito:

 

1.       relato fantástico de tradição oral, geralmente protagonizado por seres que encarnam, sob forma simbólica, as forças da  natureza  e os aspectos gerais da condição humana; lenda, fábula, mitologia;

2.       narrativa acerca   dos tempos heroicos, que geralmente guarda um fundo de verdade;

3.       relato simbólico, passado de geração  em geração dentro de um grupo, que narra e explica a origem de determinado fenômeno,  ser  vivo, acidente geográfico, instituição, costume social etc.

 

As definições acima são do dicionário de Antônio Houassis. Segundo o professor André Alonso,

 

a palavra mito vem do grego μυθος (mythos). O termo grego significa, primeiramente, “palavra”, “discurso”. [...]

Pode também significar uma discussão, uma conversa, um conselho. É só posteriormente que é utilizado com o sentido de “lenda” ou “fábula”, significado esse que é precisamente o que retivemos para o termo “mito” (2012, p. 2).

 


Mas, afinal, qual a diferença entre mito e lenda?

Para começo de conversa, é difícil definir satisfatoriamente o mito, que, de acordo com o supracitado professor (2012, p. 12), é constituído de coisas admiráveis, isto é, que causam admiração no homem, que o deixam perplexo e que lhe explicam o que ele não compreende por não haver explicação racional ou científica. Na opinião dos estudiosos Morford e Lenardon (2003, p. 3 apud ALONSO, 2012, p. 3),

a impossibilidade de estabelecer uma definição satisfatória de mito não dissuadiu [ou seja: não fez desistirem] os estudiosos de desenvolver teorias abrangentes sobre o significado e a  interpretação do mito, frequentemente para fornecer bases para uma hipótese sobre suas origens... Uma  coisa  é certa: nenhuma teoria do mito pode abranger todos os tipos de mitos... Definições de mito terão a tendência de ser ou muito limitadoras ou tão vastas a ponto de serem virtualmente inúteis.

 

E agora? Calma: com as palavras do professor André Alonso (2012, p.3), ainda podemos estabelecer algumas afirmações seguras sobre o mito:

 

a) ele é uma narrativa tradicional (sublinhe-se aqui o termo tradicional);

b) ele é importante no seio de uma determinada cultura [cultura é o cultivo de hábitos, leis, comportamentos, ou seja: é o modo de vida de um povo] (logo, não é qualquer assunto que é abordado pelo mito);

c) ele é transmitido de geração em geração [oralmente, isto é: por meio da fala] (eis seu caráter tradicional);

d) trata de deuses, heróis e seres fantásticos (eis sua temática);

e) o tempo da narrativa mítica é antigo (isto é, não pode ser determinado com uma data, como o tempo histórico).

 

Vale ressaltar o seguinte:

 

 

Em seu sentido original, mythos está ligado à fala, ele é da ordem do falar, da expressão oral. De fato, mythos está ligado ao domínio semântico do logos, isto é, da palavra falada. Isso nos remete, naturalmente, ao domínio da oralidade grega. Os mitos eram   narrativas anônimas transmitidas oralmente de uma geração a outra. Como elas estavam sujeitas a esse longo processo de transmissão oral, elas são tradicionais (em latim, “traditio” significa transmissão e, portanto, aquilo que é transmitido de uma geração a outra é “tradicional”). Esse caráter tradicional está ligado ao processo de oralidade grega, o qual se dá, durante longos séculos, em uma cultura na qual a escrita era inexistente ou marginal (ALONSO, 2012, p. 4).

 

Observem que o mito pode ser um relato fantástico. As palavras fantasia, fantasma e fantástico são cognatas: têm o mesmo radical e a mesma origem. Fantástico é tudo que é maravilhoso, mágico ou sobrenatural. Os deuses, as fadas, os anões, todos eles são seres fantásticos. Já viram o desenho animado Scooby Doo? (que, se não me falha a memória, é mencionado a propósito de exemplificação pelo Prof. Dr. Alexander Meireles da Silva no seu Fantasticursos). Quem já viu sabe que sempre aparece uma assombração que, no fim, revela-se falsa: alguém assustapessoas com truques e os detetives descobrem que a assombração é, na verdade, uma peça pregada por alguém ou por um grupo de pessoas que fingem que existe um monstro ou um fantasma. Dá para contar nos dedos as aventuras em que Scooby Doo descobre um caso de fantástico-maravilhoso, ou seja: um caso em que realmente havia uma assombração ou um monstro. Podemos dizer que existem dois tipos de fantástico: o maravilhoso, em que as personagens convivem com seres sobrenaturais ou maravilhosos, como deuses e fadas, e o estranho. O fantástico-estranho é um falso fantástico: desvenda-se o mistério: descobre-se que os casos sobrenaturais eram falsos, como no desenho animado Scooby Doo, e que os detetives usam a razão e a lógica. Eles não saem acreditando em tudo que lhes dizem. Pode-se dizer que eles usam o senso crítico, além, é claro, de métodos científicos ou lógicos de investigação e apuração dos fatos. Isso quer dizer que os heróis de Scooby Doo fazem o que os filósofos aprovam e incentivam: o uso da razão, da capacidade de pensar com a própria cabeça. “Acontecimentos que parecem sobrenaturais ao longo de toda a história no fim recebem uma explicação racional” (2017, p. 51). Com efeito, “existem autores de histórias cujas narrativas não apelam para o sobrenatural” (TODOROV, 2017, p. 171).

O termo logos significa discurso ou palavra; logia tem praticamente o mesmo

sentido, podendo também significar estudo; logo, mitologia é o conjunto ou o estudo dos mitos.

Falta mais alguma informação? Vejamos:

     Mito também significa mentira com valor de verdade. Muitos gregos acreditavam nas narrativas míticas, cheias de acontecimentos fantásticos, como os doze trabalhos de Hércules, embora não houvesse provas científicas ou evidências que confirmassem que Hércules tivesse existido. Não é à toa que são usadas as palavras mitomania e mitómano. Explico: mitomania é a mania de mentir; o mitómano, por sua vez, é o indivíduo que mente compulsivamente. Mente que nem sente (ou seja: mente tanto que nem percebe que mente), como diz a expressão popular.

       De acordo com a filósofa Marilena Chauí (gravem bem o nome dela, pois sem ela, que é uma das intelectuais mais brilhantes que temos, dificilmente vocês compreenderão a realidade do Brasil), o mito é uma narrativa (uma história) que se originou de outra, que por sua vez se originou de uma terceira; a terceira variou de uma quarta narrativa, que é mais antiga do que as três mais recentes; a quarta narrativa, a seu turno, é apenas uma versão de uma narrativa ainda mais antiga, que por sua vez surgiu a partir de outra, que também já tinha surgido de outra... Entendem o que quero dizer? É praticamente impossível determinar a origem de um mito: ela se perde na noite dos tempos e sempre se repete. Isso tem que ver com o inconsciente, investigado por dois estudiosos: Freud e Jung. Este último fala do inconsciente coletivo, que seria uma espécie de memória coletiva compartilhada por toda a humanidade com o passar das eras (segundo meu entendimento).

A impossibilidade de conhecer um mito que teria dado origem a todos os outros tem que ver com o conceito de mito fundador, que é o conceito abordado pela brilhante e maravilhosa filósofa Marilena Chauí. A noção de mito fundador, na verdade, é de um estudioso chamado Dominique Maingueneau (pronuncia-se “Manganô”). No caso da mitologia grega e seu panteão (ordem ou conjunto dos deuses), podemos tomar como ponto de partida a Teogonia, um livro escrito pelo poeta Hesíodo, que apenas se baseou em histórias narradas pelos aedos (poetas gregos que usavam apenas a fala). Teo quer dizer deus; gonia quer dizer origem.

Uma coisa é certa: o mito fundador sempre se repete: sempre é passado de uma geração para outra. Em verdade: é sempre reconstituído. Isso quer dizer que sempre é repetido, embora também seja renovado. Para os gregos, a história dos deuses e a da guerra de Troia (que vou resumir adiante) eram a história da própria nacionalidade deles. Infelizmente, a repetição ininterrupta de um mito pode ser prejudicial a um povo. No Brasil, por exemplo, temos vários mitos fundadores, como o de que somos um país tropical paradisíaco e com uma população cordial, dada à ordem e ao progresso, quando na verdade somos uma sociedade extremamente autoritária, injusta e, portanto, desumana.

Mas e a diferença entre mito e lenda?

quem diga que a lenda é baseada num fato histórico. Estamos diante da diferença entre a ficção e a realidade: a história real conta com personagens reais, testemunhas reais e registros (estes últimos são a historiografia, ou seja: a escrita de fatos históricos), ao passo que a ficção é pura invenção (a palavra ficção vem do latim e tem que ver com fingimento). Contudo, quem conta um conto aumenta um ponto. Realmente, é muito pequena e sutil a diferença entre mito e lenda: Eram mitos duas histórias: A Ilíada e A Odisseia, dois longos poemas do escritor Homero (928 a.C-898 a.C), que se baseou em canções que eram repetidas pelos aedos ou rapsodos. Trata-se das duas epopeias gregas, isto é: dos dois poemas épicos da literatura grega, que são alguns dos mais importantes poemas épicos do Ocidente e da humanidade, ainda que Platão não gostasse deles, uma vez que, em sua opinião de filósofo, o nosso mundo fosse apenas uma cópia ou imitação do mundo das ideias, que, por sua vez, seria uma realidade paralela da qual viriam todas as coisas do nosso mundo. Como a ficção imita a realidade, então as epopeias seriam cópias da cópia, porquanto Platão (Atenas, 428/427–Atenas, 348/347 a.C.), como foi dito, considerasse o mundo que vemos e escutamos como sendo uma cópia, uma falsidade. Por outro lado, Aristóteles (384 a.C. — Atenas, 322 a.C.), que tinha sido discípulo de Platão, tinha um pensamento diferente: tanto a tragédia como e apopeia falam de personagens elevados, como deuses e heróis, ao contrário da comédia, que busca caracteres risíveis (BRANDÃO, 2018, p. 10).

Há quem duvide de que Homero tenha mesmo existido. De qualquer forma, nas duas epopeias, contam-se, respectivamente, os acontecimentos da Guerra de Troia (Ilíon em grego é o nome de Troia), que durou dez anos, e o retorno de Ulisses a Ítaca, sua terra natal: No tempo em que contavam as duas histórias, os gregos nelas acreditavam, porém começaram a ser vistas como ficção. Num resumo bem grosseiro, as duas histórias foram assim:

Helena, princesa de Esparta, era muito desejada pelos homens. O sábio e habilidoso Ulisses (também conhecido como Odisseu), a pedido do pai de Helena,decidiu que todos os homens aceitariam a decisão dela. Helena se casa com Menelau, irmão de Agamenon (rei da cidade-país de Micenas), e todos os pretendentes dispensados juram lealdade ao casal, prometem nunca atrapalhar a união e se comprometem a proteger o casamento dos dois. Contudo, um dia, Eres, a deusa da discórdia, oferece a Páris, príncipe de Troia, um pomo de ouro (parecido com o que aparece nos livros e nos filmes de Harry Potter). Nele se lia “À mais bela”. Páris deveria entregar o pomo ou à deusa Athena, ou a Afrodite (a deusa do amor), ou à esposa de Zeus para dizer qual das três deusas era a mais bela. O príncipe, porém, decide que quer se casar com Helena e então a sequestra... Bem, na verdade, Helena se apaixona pelo príncipe Páris, então não foi sequestrada coisíssima nenhuma. Uma vez “prisioneira” de Troia, todos os outros reinos (países ou cidades) da Grécia decidem iniciar uma guerra contra Troia (lembrem-se de que haviam jurado proteger Helena e Menelau). A guerra dura dez anos. No décimo ano de guerra, Ulisses, agora casado com Penélope (prima de Helena) e pai do garoto Telêmaco, decide criar um enorme cavalo de madeira, que seria um presente dos gregos aos troianos como sinal da suposta vitória destes sobre aqueles. Os troianos aceitaram o cavalo: levaram-no para dentro da cidade de Troia sem que desconfiassem que estavam levando uma armadilha. (Daí as expressões presente de grego e cavalo de Troia, que significam coisas ruins.) Quando perceberam que os guerreiros de Troia estavam vulneráveis, os gregos, liderados por Ulisses (o mais inteligente deles), atacaram o exército troiano, derrotaram-no e levaram Helena de volta para Esparta e seu “amado” Menelau. Houve, é claro, algumas perdas: Aquiles, cuja fúria seria um dos mais importantes temas da Ilíada, morre (e morre supostamente ao ser atingido no calcanhar; daí a expressão calcanhar de Aquiles, que significa ponto fraco). Mas qual foi a causa da fúria de Aquiles? Resposta: Há dois motivos: 1. Criseida (ou Briseida), que era uma espécie de namorada de Aquiles, havia sido sequestrada por Agamenon; 2. Heitor, outro príncipe de Troia, mata Pátroclo, que, além de sobrinho, era também um amigo querido de Aquiles, que jura se vingar de Heitor. Aquiles foi um dos guerreiros que lutaram na Guerra de Troia, assim como Ulisses. O próprio Ulisses não consegue voltar logo para casa: em A Odisseia, descobrimos que ficou preso na ilha da feiticeira Calipso, que só o liberta porque Atena pede que ela o solte e que ele volte para a família. Foi até feita uma reunião ou assembleia entre os deuses, em que, depois de ouvir o apelo da deusa Atena:

 

“Filha, por que tais palavras do encerro da boca soltaste?

Como é possível que do divo Odisseu venha a esquecer-me,

Que se distingue de todos os homens e, mais que todos,

Fez sacrifícios aos deuses eternos, do céu moradores? [...]” (HOMERO, 2017, p. 35).

 

Penélope, esposa de Ulisses, não tem notícias dele há anos; Telêmaco, filho de Penélope e Ulisses, já tem até barba. Enquanto isso, muitos homens querem desposar Penélope na certeza de que ela já é viúva. Mas Ulisses consegue voltar para casa.

A história da Ilíada, que é a história da fúria de Aquiles e do fim da guerra de Troia, e a história da Odisseia, que narra o retorno de Ulisses a sua terra (que se chama Ítaca), eram mitos nos quais acreditavam os gregos; seus personagens conversavam com os deuses. Em algum momento, passaram a ser mitos no sentido de que eram apenas histórias fantásticas sem comprovação. Um dia, porém, o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann descobriu ruínas em Troia. Com as escavações realizadas em Micenas e Troia (cidades gregas), ele pretendia provar que as histórias narradas em A Ilíada e em A Odisseia eram ao menos parcialmente verdadeiras. Em resumo: elas teriam um fundo de verdade, uma base histórica. Portanto, seriam lendas.

Vocês leram Harry Potter e a Câmara Secreta? Como muitos sabem, o personagem principal estuda numa escola de magia. No seu segundo ano (1992), corre o rumor de que haveria uma câmara secreta dentro da escola e que de algum modo ela colocava em risco a vida de estudantes considerados “impuros” e indignos da escola. Durante uma aula de História (História da Magia), a personagem Hermione (a aluna mais inteligente e culta da escola) levanta a polêmica sobre a existência da tal câmara, cuja existência ninguém tinha provado. É preciso destacar que a disciplina História da Magia é ensinada pelo Prof. Binns, que um dia “simplesmente se levantara para dar aula e deixara o corpo sentado numa poltrona diante da lareira da sala dos professores” (ROWLING, 2000, p. 130); por isso é um fantasma. Assim que notou que a aula havia se desviado do objetivo principal, o professor se zangou. Vamos ler, agora, um trecho do romance Harry Potter e a Câmara Secreta (os destaques são meus), da britânica J.

K. Rowling (tradução da maravilhosa Lia Wyler):

 

 

— Basta! — disse com rispidez. — É um mito [a Câmara Secreta]! Não existe! Não a mínima prova de que Slytherin tenha algum dia construído sequer um armário secreto de vassouras! Arrependo-me de ter contado aos senhores uma história tão tola. Vamos voltar, façam-me o favor, à história, aos fatos sólidos, críveis e verificáveis.

E em cinco minutos a classe voltara a mergulhar em seu  torpor habitual (ROWLING, 2000, p. 132-3).

 

É irônico que um fantasma fale em fatos sólidos, críveis e verificáveis, não? No final de Harry Potter e a Câmara Secreta, descobre-se que existe a tal câmara.

 

***

A diferença entre História e mito é a diferença entre realidade e ficção, mas ambos os tipos de história ensinam lições de moral e visões sociais de mundo. No caso da História, é importante que seja estudada, como afirma o escritor Pedro Bandeira. Palavras dele:

 

eu quis mostrar o quanto a História ainda afeta nossa vida, o quanto fatos que ocorreram muito antes do nascimento de meus leitores ainda são dificuldades vivas, ainda são barreiras a bloquear a construção de um futuro mais justo. [...] E só a consciência desses eventos com a ajuda do conhecimento da História pode oferecer condições para que possamos resistir ao que há de errado em nossa civilização e nos apontar caminhos para que possamos progredir no rumo certo, o rumo da verdade, da liberdade e da justiça (2009, p. 191-92, destaques meus).

 

Quero compartilhar com vocês uma passagem do romance O Mundo de Sofia

(2012, p. 35-9), do norueguês Jostein Gaarder:

 

 

O MUNDO VISTO ATRAVÉS DA MITOLOGIA

 

 

Por filosofia queremos dizer uma maneira completamente nova de pensar que surgiu na Grécia aproximadamente em 600 a. C. Antes disso eram as várias religiões que davam às pessoas as respostas para as perguntas que elas faziam. Essas explicações religiosas foram transmitidas de geração em geração através dos mitos. Um mito é uma narrativa que pretende explicar pela visão dos deuses a vida como ela é.

Em todo o mundo, ao longo de milênios, uma profusão de mitos floresceu como resposta às questões filosóficas. Os filósofos gregos tentaram mostrar às pessoas que essas respostas não eram confiáveis.

Para compreender o pensamento dos primeiros filósofos, nós devemos compreender o que seria uma visão mitológica do mundo. Não é preciso ir tão longe, até a Grécia, para isso. Vamos tomar algumas concepções mitológicas da Escandinávia como exemplo.

Você certamente já ouviu falar de Tor e seu martelo. Antes de o cristianismo chegar à Noruega, os habitantes daqui acreditavam que Tor cruzava os céus numa carruagem puxada por dois bodes. A palavra “trovão” “torden” em norueguês


quer dizer exatamente “o ruído de Tor”. Em sueco, “trovão” é “aska”, referindo-se à jornada dos deuses pelo céu.

Quando troveja e relampeja, geralmente também chove, um fenômeno vital para os camponeses da era dos vikings. Por isso Tor passou a ser adorado como deus da fertilidade.

A resposta mitológica para a origem da chuva era o agitamento do martelo de Tor. Quando chovia, as sementes brotavam e a plantação crescia na lavoura.

Era um mistério por que as plantas cresciam nos campos e davam frutos. Mas tinha a ver com a chuva, disso os camponeses estavam certos. Portanto, todos acreditavam que tinha a ver com Tor. Isso fez dele um dos deuses mais importantes da Europa Setentrional.

Tor era importante também por outro motivo, que tinha a ver com a harmonia do mundo.

Os vikings imaginavam habitar um mundo que era uma ilha constantemente ameaçada por perigos externos. À parte habitada desse mundo eles chamavam Midgard, que significa algo como “reino do meio”. Em Midgard ficava Asgard, a morada dos deuses. Além das fronteiras de Midgard ficava Utgard, isto é, o “reino de fora”, onde viviam os perigosos trolls, sempre tentando destruir o mundo com seus truques sujos. Costumamos nos referir a esses monstros malignos como “forças do caos”. Tanto nas religiões nórdicas antigas como na maioria das outras culturas as pessoas acreditavam num instável embate de forças entre o bem e o mal.

Uma maneira de os trolls destruírem Midgard seria raptar Froya, a deusa da fertilidade. Se conseguissem, nada iria crescer nos campos e as mulheres não poderiam ter filhos. Logo, era fundamental que os deuses os mantivessem sempre sob controle.

Aqui também Tor desempenhava um papel importantíssimo. Seu martelo não apenas trazia a chuva, mas era uma arma poderosa na luta contra as perigosas forças do mal. O martelo lhe dava um poder quase infinito. Ele podia, por exemplo, atirá-lo nos trolls e matá-los. Ele nem se preocupava com a possibilidade de perdê-lo, porque o martelo era como um bumerangue, e sempre retornava às suas mãos.

Essa era a explicação mitológica para o funcionamento da natureza e para a luta permanente entre o bem e o mal. E era justamente de explicações mitológicas como essa que os filósofos queriam se ver livres.

Mas não é apenas de explicações que estamos falando.


As pessoas não podiam ficar de braços cruzados esperando os deuses aparecerem quando catástrofes como secas ou doenças contagiosas as ameaçassem. As pessoas precisavam elas mesmas participar na luta contra o mal. Isso acontecia através de uma variedade de cerimônias religiosas, ou rituais.

O principal ritual religioso na Antiguidade nórdica era o sacrifício. Fazer um sacrifício para determinado deus aumentaria o poder dele. As pessoas deveriam, por exemplo, fazer sacrifícios para que os deuses fossem fortes o bastante para vencer as forças do mal. Isso seria feito imolando-se um animal para determinado deus. Para Tor, acredita-se que era comum se sacrificarem bodes. Para Odin acontecia de serem feitos sacrifícios humanos.

O mito mais conhecido da Noruega chegou até nós através do poema Trymskvida. Ele nos conta que Tor se deitou, adormeceu e, ao despertar, viu que seu martelo desaparecera. Tor ficou tão furioso que suas mãos se agitaram e sua barba estremeceu. Junto com seu companheiro Loke ele foi até Froya e lhe pediu emprestadas as asas para que Loke pudesse voar até Jotunheim, o lar dos trolls, e descobrir se eles é que haviam roubado o martelo de Tor. Lá chegando, Loke encontrou-se com Trym, o rei dos trolls, que se gabava de ter escondido o martelo de Tor oitenta quilômetros debaixo da terra. E disse mais: os deuses só teriam o martelo de volta caso ele se casasse com Froya.

[...] Os bons deuses estavam enfrentando uma situação terrível, um drama envolvendo uma chantagem. Os trolls agora tinham em seu poder a arma mais importante dos deuses, uma situação inaceitável. Enquanto estivessem de posse do martelo de Tor, os trolls deteriam todo o poder sobre os deuses e sobre o mundo dos homens. Em troca do martelo eles exigiam Froya. Mas essa troca seria impossível: se os deuses entregassem a deusa da fertilidade — a protetora de toda forma de vida —, o verde do campo iria perecer e os deuses e os homens também. A situação é um impasse completo. Se você imaginar um grupo terrorista que ameaça explodir uma bomba atômica no meio de Londres ou Paris caso suas exigências não sejam atendidas, vai certamente perceber o que eu quero dizer.

O mito nos ensina mais adiante que Loke retorna a Argard e pede a Froya que se vista de noiva, pois ela deverá casar-se com o rei dos trolls (infelizmente, infelizmente!). Froya fica furiosa e diz que as pessoas vão pensar que ela é ousada demais caso se case logo com um troll.


Então o deus Heimdal tem uma ideia luminosa. Ele sugere que o próprio Tor se vista de noiva, prendendo os cabelos [...], de modo a parecer uma mulher. Naturalmente, Tor não fica lá muito animado com a sugestão, mas acaba reconhecendo que a única possibilidade de os deuses reaverem o martelo é seguir o plano de Heimdal.

No fim, Tor se veste de noiva e Loke o acompanha como dama de honra. “Enviaremos duas mulheres para os trolls”, diz o zombeteiro Loke.

Usando uma linguagem mais moderna, podemos dizer que Tor e Loke são o “comando antiterrorista” dos deuses. Disfarçados de mulheres, eles vão se infiltrar na fortaleza dos trolls e reaver o martelo de Tor.

Assim que os dois chegam a Jotunheim, os trolls começam a preparar a festa de casamento. Só que durante a festa a noiva — isto é, Tor — devora um boi inteiro e oito salmões. E também bebe três barris de cerveja. Isso deixa Trym boquiaberto, e quase arruína o disfarce do comando antiterrorista. Mas Loke consegue contornar a perigosa situação que se armava. Ele conta que Froya não tinha comido nos últimos oito dias, tão ansiosa estava para chegar a Jotunheim.

Quando Trym tenta erguer o véu e beijar a noiva, ele nota o olhar irado de Tor e se detém. Mais uma vez Loke contorna a situação. Ele conta que a noiva estava sem dormir havia oito noites, tal era a sua alegria com o casamento. Trym ordena então que busquem o martelo e o ponham no colo da noiva durante a cerimônia.

Logo que Tor recebeu o martelo, ele deu uma bela gargalhada, conta o poema.

Primeiro ele matou Trym e depois o restante dos habitantes de Jotunheim. E, desse modo, o drama dos terroristas teve um desfecho feliz. Novamente Tor — o Batman ou o James Bond dos deuses derrotava as forças do mal.

Assim é a narrativa do mito [...]. Mas o que ela quer dizer realmente? Esse mito não foi contado apenas para divertir os ouvintes. Ele também objetiva explicar algo. Uma interpretação possível seria esta:

Quando a seca se abatia sobre a terra, as pessoas precisavam de uma explicação para a falta de chuva. Por acaso os trolls não teriam roubado o martelo de Tor?

Pode-se também especular que o mito tenta compreender a variação das estações do ano: no inverno a natureza fenece porque o martelo de Tor está em Jotunheim. Mas na primavera ele consegue reavê-lo. Assim funciona o mito, fornecendo resposta para aquilo que eles não compreendem.


Mas o mito não devia apenas explicar. Com frequência as pessoas conduziam várias cerimônias religiosas relacionadas aos mitos. Podemos imaginar que a reação delas à seca ou à quebra da safra seria encenar o mesmo drama que o mito contava. Talvez um homem se fantasiasse de noiva [...] para reaver o martelo que estava em poder dos trolls. Assim as pessoas podiam tomar parte numa ação concreta para fazer com que a chuva voltasse a cair e as sementes germinassem nos campos.

O que sabemos com certeza é dos exemplos, vindos de todas as partes do mundo, de gente encenando “mitos das estações do ano” a fim de acelerar os processos da natureza.

 

Podemos notar que há um caráter épico, isto é: um caráter heroico nos mitos. A respeito do herói foram tecidas as seguintes considerações:

 

as sociedades primitivas (denominadas “arcaicas”) procuram num tempo longínquo (na chamada “idade mítica”) aquilo que julgaram ter perdido: a verdade eterna. Esta se encontraria num passado tão distante que não dá nem para se medir. A procura dela envolve ritos, cultos e lendas, como se isso permitisse o seu retorno. É o mito do eterno retorno. Isto tudo refletindo um “horror da história” de uma sociedade em transformação que se assusta  com as mudanças. O mito seria, então, um consolo contra a história. E o herói, um consolo contra a fraqueza humana (FEIJÓ, 1984, p. 13).

 

Mitos, lendas e fábulas (nestas últimas os animais possuem características humanas, como o dom da fala, ou a cobiça, como a raposa da fábula A raposa e as uvas, de Esopo) levantam questões examinadas por outras ciências, tais como:

 

a Antropologia, que estuda o homem como ser biológico que produz cultura ao mesmo tempo que é produzido por ela (“antropos” quer dizer homem ou ser humano em grego);

 

a Sociologia, que estuda as classes sociais não apenas como sendo as classes A, B, C, D e E, mas como classes determinadas pelo modo como se relacionam com os meios privados sociais de produção (esses meios são não apenas as matérias-primas fornecidas pela natureza, como minério, carvão, petróleo, mas também o maquinário da fábricas e o dinheiro usado para pagar o salário dos funcionários) dentro do Estado (União oupaís), que conta com três poderes (o executivo, o legislativo e o judiciário) e um regime político (uma ditadura, uma democracia, uma república, um reino, etc.);

 

a Psicologia, que estuda a personalidade, as emoções e o comportamento dos seres humanos;

 

a Economia, que é o estudo do modo de produção e circulação (venda e compra) de bens e serviços (como roupas, alimentos e serviços de transporte) em três setores (o primário, o secundário e o terciário). Pode-se dizer que a economia é o próprio modo de produção disso tudo, que depende das matérias-primas fornecidas pela natureza (como minério, carvão, petróleo), do maquinário e do dinheiro. houve a economia feudalista; hoje existe o capitalismo, que está assumindo a pior forma: a do neoliberalismo econômico, que tenta privatizar o Estado e os direitos sociais (saúde e educação). A economia é formada pelo mercado (conjunto de empresas ou companhias privadas) e pelo Estado (que pode manter empresas públicas ou estatais). A palavra economia vem de oikós (οἶκος), palavra grega que significava, numa definição grosseira e reduzida, casa ou família, em que o patriarca (o pai) tinha poder absoluto sobre a casa. Esta era particular e, portanto, era diferente da pólis (a cidade) e oposta à cidade, que era pública. O orçamento de uma casa ou de uma família é como a economia atual: há o dinheiro arrecadado e o dinheiro gasto.

 

a Linguística, que estuda qualquer idioma;

 

 

os Estudos Literários, que querem entender como o idioma é esteticamente usado na literatura, a arte da palavra;

 

a Filosofia, que estuda de modo racional a partir de indagações muitos e muitos assuntos antes compreendidos só pelo pensamento mitológico; não é à toa que foi ela a primeira forma racional de compreender o mundo; por isso ela deu origem a todas as ciências. “Filo” quer dizer amor ou amizade; “sofia” significa conhecimento ou sabedoria, logo, filosofia é amor ou amizade pelo conhecimento.

 

Estou esquecendo alguma coisa? Ah, sim, é importante que saibamos sempre que os mitos ainda existem: estão no senso comum.

Mas o que é senso comum?

 

Ora, ele é o conhecimento compartilhado por todos por meio da fala sem questionamento, sem reflexão, sem filosofia e, muitas vezes, sem base científica. Às vezes o senso comum está de acordo com a ciência. A importância de lavar as mãos, por exemplo, está no senso comum. Entretanto, nem sempre ele carrega verdades, de modo que acaba sendo uma forma de sustentar visões sociais de mundo absurdas. Um exemplo é a ideia de pátria, que sempre esteve por detrás das mortes causadas pelas guerras, as quais beneficiam apenas uma reduzidíssima minoria de pessoas do planeta. Outro exemplo é a posição da mulher na sociedade: muitos ainda acham que a ela cabe tão só o papel doméstico e nunca a função de comando. E é muito recente a aceitação da gravidez fora do casamento...

Pode-se dizer, pois, que os mitos são um suporte de ideologia, assim definida por Marilena Chauí:

 

não é apenas a representação imaginária do real para servir ao exercício da dominação em uma sociedade fundada na luta de classes, como não é apena s a inversão imaginária do processo histórico na qual as ideias ocupariam o lugar dos agentes históricos reais. A ideologia, forma específica do imaginário social moderno, é a maneira necessária pela  qual os agentes sociais representam para si mesmos o aparecer social, econômico e político, de tal sorte que essa aparência (que não devemos simplesmente tomar como sinônimo de ilusão ou falsidade), por ser o modo imediato e abstrato de manifestação do processo histórico, é o ocultamento ou dissimulação do rea l. Fundamentalmente, a ideologia é um corpo sistemático de representações e de normas que nos “ensinam” a conhecer e a agir. A sistematicidade e a coerência ideológicas nascem de uma determinação muito precisa: o discurso ideológico é aquele que pretende coincidir com as coisas, anular a diferença entre o pensar, o dizer e o ser e, destarte, engendrar uma lógica da identificação que unifique pensamento, linguagem e realidade para, através dessa lógica, obter a identificação de todos os sujeitos sociais com uma imagem particular universalizada, isto é, a imagem da classe dominante (1997, p. 3).

 

Lembrem-se de que mito é também uma mentira com valor de verdade; por isso sem ele não pode haver ideologia, que é o senso comum. Este, por sua vez, se divide em várias ideologias, todas a serviço de uma maneira mais ou menos uniforme (igual para todas as pessoas) de compreender o mundo. Exemplos:


Hoje, acredita-se na ascensão social: um indivíduo pode passar de uma classe social para outra; isso seria impensável e impossível na Idade Média, mas a ideologia precisa silenciar que as chances de isso acontecer são muito pequenas, pois, se ela não silenciar, vai ser denunciada a injustiça que garante os privilégios da classe social dominante.

Outra ideologia é a que dizia que a mulher não deveria trabalhar fora de casa; hoje reconhecemos o avanço das lutas feministas e a importância do direito ao trabalho por parte das mulheres, que podem ser profissionais autônomas, funcionárias públicas ou funcionárias de empresas privadas; todavia, hoje a ideologia, que era contestada pelo feminismo, foi muito esperta: ela se aproveitou das causas feministas para fazer com que mulheres sejam tão exploradas quanto os homens ou mais do que eles, e obviamente ela (a ideologia) vai silenciar isso e mascarar a exploração com a ideia de empoderamento. Uma prova disso são as mulheres que dirigem Uber: não têm a carteira assinada, nem férias, nem 13º salário. Cabe aos diferentes feminismos a tarefa de lutar pela mudança dessa realidade.

É preciso entender que o feminismo e outras linhas de pensamento não são

ideologias: na verdade, são visões sociais de mundo que contestam a visão mais conhecida e mais poderosa; portanto, são contra a ideologia. Toda ideologia é uma visão social de mundo, mas nem toda visão social de mundo é uma ideologia. Uma das funções da ideologia é silenciar o fato de que ela é ideologia, por isso não a percebem como tal: quase ninguém se dá conta de que ela é ideologia: aparece como sendo a ordem natural das coisas, e não como fruto de decisões humanas.

 

CONCLUSÃO

 

          O fantástico tem que ver com fantasia. Enquanto o leitor e o personagem da história duvidarem da existência de determinado ser ou fenômenos supostamente sobrenaturais e inexplicáveis dentro da lógica das leis que o leitor e o personagem conhecem (as leis do nosso mundo, o mundo real), haverá o fantástico. Contudo, os gregos da Antiguidade não duvidavam da existência dos seres mitológicos, porque não havia ciência que desse conta de explicar tais seres nem os fenômenos da natureza que representavam (os trovões, a colheita, as guerras). Por outro lado, Platão e outros pensadores sabiam que os mitos eram ficções. Só depois de muito tempo os gregos aprenderam que os mitos eram mitos, e não a verdade. Se tomarmos como exemplo o desenho Scooby Doo, veremos que a dúvida leva sempre a descoberta de que os monstros e os fantasmas são falsos ou tentativas de golpe (há histórias em que se descobre que tudo não passa de um sonho do personagem). Nesse caso, tem-se o fantástico-estranho: a dúvida dá lugar à certeza da falsidade mediante investigação; porém, em Scooby Doo, por exemplo, já houve um caso em que um dos vilões era mesmo um ser sobrenatural, inexplicável pelas leis do nosso mundo (o mundo real, marcado pela racionalidade e pela ciência). Nesse caso, há o fantástico-maravilhoso, em que há magia e tudo. Via de regra, os personagens de Scooby Doo partem da pressuposição de que o caso supostamente sobrenatural é uma farsa. Nos programas televisivos sensacionalistas, não são muito raros os casos de fenômenos “sobrenaturais”. São entrevistados até “médiuns”. Quem não acredita nessas coisas é cético. Vale citar o seguinte trecho de um dos livros do pernambucano Diógenes Magalhães (1924-?) (2006, p. 118):

 

Perguntei um dia a um ateu:

— És capaz de entrar, à meia-noite, sozinho, num cemitério?

— Bem, eu... (começou ele).

— ...Basta (interrompi). Já me respondeste.

 

Para encerrar esta mensagem, deixo dois questionários. Vocês podem escolher pelo menos uma questão discursiva e, no máximo, três; já as questões objetivas são obrigatórias.

 

Questões objetivas:

 

1ª: As palavras fantasma, fantasia e fantástico

 

a) não são cognatas, pois não compartilham a mesma raiz.

b) são cognatas por compartilharem a mesma raiz.

c) são cognatas porque cada uma tem uma raiz diferente.

d) não têm nada que ver umas com as outras.

 

2ª: O fantástico-estranho e o fantástico-maravilhoso

a) são a mesma coisa.

b) não são a mesma coisa, já que no primeiro há o sobrenatural.

c) são sempre iguais.

d) não são iguais, uma vez que no primeiro não há o sobrenatural, enquanto no segundo há.

 

Questões discursivas:

 

 

1.      Que é mito? Quais suas características?

2.      Quais são as diferenças entre o pensamento mítico (mitológico) e o pensamento filosófico?

3.      Cite pelo menos uma característica da fábula. Se possível, um exemplo.

4.      Qual o significado dos termos mythós e logos?

5.      Qual o nome do poeta responsável pela Teogonia?

6.      Qual o nome do autor de A Ilíada e A Odisseia?

 1.      O que estava escrito no pomo que foi apanhado pelo príncipe Páris?

2.      Por quem o príncipe Páris se apaixona?

3.      De qual reino Páris era príncipe?

4.      De qual reino Helena era princesa?

5.      Com quem Helena se casa?

6.      Quem era o irmão de Melenau?

7.      De que reino eram Melenau e Agamenon?

8.      O que causou a guerra de Troia?

9.      Na sua opinião, Helena foi mesmo raptada? (Para responder a esta questão, o aluno terá de procurar outras fontes e ler pelo menos uma adaptação de A Ilíada.)

10.  O que teria causado a fúria de Aquiles?

11.  Que significados podemos atribuir às expressões calcanhar de Aquiles, presente de Grego e cavalo de Troia? Contextualize e exemplifique, ou seja: mencione uma situação hipotética (imaginarária) ou vivenciada para explicar o que significam tais expressões.

12.  Qual é o outro nome de Ulisses?

13.  Qual é o outro nome de Troia?

14.  Qual o nome da esposa de Ulisses?

15.  Qual o nome do filho de Ulisses?

16.  Qual o nome da terra natal de Ulisses?

17.  Quem manteve Ulisses prisioneiro?

18.  Haveria alguma semelhança entre o cavalo de Troia e o modo como Tor recuperou o martelo?

19.  Qual seria a função do mito diante dos fenômenos da natureza?

 

Referências:

 

ALONSO, André. Aula 7: A Grécia e o maravilhoso: o mito (parte II). In:              .

Bases da Cultura Ocidental. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2012.

 

______. Aula 9: Hesíodo e a poesia didática. In: ______. Bases da Cultura Ocidental. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, 2012.

 

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1986.

 

BANDEIRA, Pedro. Anjo da morte: mais uma aventura dos Karas. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2009.

 

BERNARDET, Jean-Claude. O que é cinema (Coleção Primeiros Passos). São Paulo: Brasiliense, 2006.

 

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CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. 7. ed. São Paulo: Cortez, 1997.


             . O que é ideologia (Coleção Primeiros Passos). 30. ed. São Paulo: Brasiliense, 1989.

 

Fantasticursos, de Alexander Meireles da Silva: Qual é a diferença entre FANTÁSTICO, ESTRANHO e MARAVILHOSO [?]. In: YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=in96ecdI_eY&ab_channel=Fantasticursos>. Acesso em: 20 abr. 2021.

 

FEIJÓ, Martin Cezar. O que é herói (Coleção Primeiros Passos). São Paulo: Brasiliense, 1984.

 

GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia: romance da história da Filosofia. Tradução de Leonardo Pinto Silva. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

 

GALDINO, Luiz. Odisseia (adaptação da obra do poeta Homero). São Paulo: Escala Educacional, 2005.

 

HOMERO. Odisseia. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.

 

LÖWY, Michael. Introdução: Visões sociais de mundo, ideologias e utopias no conhecimento científico-social. In:                                                                . As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchensen: Marxismo e Positivismo na Sociologia do Conhecimento. Tradução de Juarez Guimarães e Suzanne Felicie Léwy. São Paulo: Busca Vida, 1987.

 

MAGALHÃES, Diógenes. Neurose No Corpo.  2. ed. Rio de Janeiro: Edições Coisa Nossa, 2006.

 

ROWLING, J. K. Harry Potter e a Câmara Secreta. Tradução de Lia Wyler. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

 

TODOROV, Tzvetan. Introdução à Literatura Fantástica. Trad. Maria Clara Correa Castello. São Paulo: Perspectiva, 2017.

 




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