INTRODUÇÃO
Que é comunicação? Já pararam para pensar no que ela é e no que não é? Que é necessário para que haja comunicação?
Comunicante, comunicado, comunicando e comunicação
Comunicação é o ato de tornar
comuns os sentimentos e as ideias através de uma mensagem, que obviamente
depende de uma linguagem.
São cognatas as palavras comunicar,
comunidade, comum, comunicação, comunicante, comunidade e comunicação. Em resumo: têm o mesmo radical. Já dizia
Abelardo Barbosa (1917-1988), conhecido como Chacrinha: “Quem não se comunica
se trumbica”. Por outro lado, também dizia: “Eu estou aqui para confundir: não
estou aqui para explicar”. Ora, para que haja comunicação, é necessário que
haja, pelo menos, duas pessoas: o emissor e o receptor. Assim, alguém fala e outro alguém escuta. Trata-se
dos interlocutores, e interlocutor é a pessoa com quem se conversa. Em algum
momento a pessoa que fala para de falar para que o ouvinte passe a ser o
falante. Isso também vale para os recados escritos, e não apenas para os
recados falados. Também vale para o uso de todas as linguagens. O cinema, por
exemplo, é um comunicado do roteirista, do produtor, do diretor e do elenco ao
público.
Memorizem bem isto: interlocutor
é a pessoa com quem se conversa. Também quero que gravem bem o seguinte: cada
interlocutor, a menos que não preste atenção, interage mentalmente com a
mensagem da outra pessoa. Isso quer dizer que o ouvinte e o leitor ficam
imaginando as respostas que gostariam de dar enquanto escutam e leem. Às vezes,
até interrompem a pessoa que está falando. Em outras palavras: o primeiro
emissor deixa de ser emissor para ser o receptor a partir do momento em que o
receptor decide dar uma resposta, que é o feedback.
É o feedback que confirma se foi
perfeitamente bem compreendida a mensagem. Se não houver entendimento, não
haverá comunicação. Repito: se não houver entendimento, não haverá comunicação. Os mal-entendidos, aliás, são bastante comuns.
Portanto, Chacrinha, aparentemente, valorizava a comunicação, porém não
valorizava tanto a boa interpretação; afinal, estava na televisão para
complicar, e não para explicar, como ele mesmo dizia.
Graças a Roman Jakobson (1896-1982),
podemos saber a teoria que vocês conhecerão a partir de agora.
A Teoria da
Comunicação, de Roman Jakobson: Os elementos da comunicação e as funções da linguagem
Assunto (referente)
Função referencial (função denotativa)
Emissor |
Mensagem |
Receptor |
Função emotiva |
Função poética |
Função conativa (apelativa) |
Canal Função Fática
Código
Função
metalinguística
Vejam bem: O esquema resumitivo acima apresenta os elementos da
comunicação e as funções da linguagem. Eu poderia, por exemplo, apresentar a
estrutura das minhas colheres de sopa: cada uma é feita de aço inoxidável, de
cor prateada, e cada uma pode ser medida e ter sua massa apontada numa balança.
Contudo, pouco me importa a estrutura da colher: o que importa é que com ela
posso tomar sopa e cozinhar. O garfo, por sua vez, tem uma estrutura um pouco
diferente, mas nada impede que eu tente misturar o açúcar com ele na hora de
adoçar o café matinal na minha xícara favorita. Um piloto de fórmula um é um
ser humano, como eu: tem ossos, carne, sangue, lembranças, cognição (que é a
capacidade de aprender), emoções e sentimentos, mas as funções dele são
diferentes das minhas, ainda que a essência dele seja bem parecida com a minha
e com a de vocês. São idênticos os componentes das estruturas, porém são
diferentes os usos. Com a comunicação não é diferente: os componentes dela são
os elementos que já apontei (emissor, receptor, mensagem, tema, linguagem e
canal), e a linguagem acaba desempenhando uma ou mais de uma das seis funções
(função referencial, função emotiva, função poética, função conativa, função
fática e função metalinguística). O desafio (por assim dizer) é saber qual
função se destaca mais do que todas as outras, porque dificilmente usamos
apenas uma.
Assunto (ou referente): É o tema da mensagem.
Liga-se à função referencial,
denotativa, da linguagem. Tal função é sempre usada na medida em que toda
mensagem aborda um assunto. Por isso tal função é uma função informativa.
Quanto maior for o objetivo de informar, maior vai ser o uso de tal função. Um
exemplo é o que acontece em boa parte das notícias e nos classificados. Até
mesmo quando os jornalistas informam as horas aos telescpectadores que não têm
relógio é usada a função referencial da linguagem. Numa outra aula, darei
exemplos de como pode ser usada essa função na poesia. Tal função tem muito que
ver com o contexto, isto é: com a situação em que uma pessoa se comunica.
Encontramos a função referencial em bulas de remédio e em livros didáticos.
Contudo, nem sempre as notícias atingem o objetivo de informar: a imprensa
sempre chama os formadores de opinião para converncer o público em determinado
assunto. Quando um veículo de comunicação insiste em abordar o mesmo
acontecimento ou o mesmo assunto várias e várias vezes, já não está informando:
está influenciando o comportamento e a opinião do público pelo uso da função conativa ou apelativa da linguagem, da qual falarei mais adiante. Um dos
exemplos é o caso da Escola Base.
Emissor: É quem fala,
escreve, toca música, dança, etc. Liga-se à função emotiva da linguagem. Já viram uma pessoa destemperada ou
descompensada? Quem não controla as emoções acaba gritando ou soltando outras
interjeições grosseiras, que demonstram falta de circunspecção (o controle das
emoções). Tais pessoas revelam o próprio
mundo interior. Não é à toa nem por acaso que se diz que a função emotiva é
usada quando se destaca o interior de quem produz a mensagem. Por outro lado,
existem situações em que é possível revelar tal mundo sem cair nas grosserias.
Um exemplo é a palavra ai: quando alguém grita de dor, por
exemplo, está revelando as emoções. Linguagens não verbais (tais como a
expressão facial, os gestos, o choro e o riso) também revelam as emoções que
até então ficavam guardadas dentro de nós. Nos desabafos também prevalece o uso
da função emotiva. Outro exemplo: quando alguém diz: “Nossa!” ou “Uau!”, esse
alguém está revelando que ficou surpreso. Trata-se de uma emoção que poderia
ser contida, mas que veio à tona por meio de uma interjeição, que, sozinha,
forma uma frase exclamativa.
Receptor: É quem escuta,
lê ou usa qualquer um dos cinco sentidos para decifrar uma mensagem. Está
ligado à função conativa ou apelativa. Se eu escrever um artigo
para defender a opinião de que a Nintendo é superior às empresas rivais em
muitos e muitos aspectos, estarei tentando influenciar o meu leitor, e também estarei
usando a linguagem para influenciar a opinião dele. Nesse caso, eu estaria
usando a função conativa ou apelativa da linguagem, que é exercida quando o
objetivo é justamente o de influenciar a opinião do receptor ou o de mudar o
seu comportamento. Se eu realmente fizesse isso, eu estaria manipulando o
leitor? A resposta é não, até porque ele poderia escrever outro texto para
discordar de mim. Outro exemplo de função conativa ou apelativa: o anúncio
publicitário. Quantas vezes não sentimos vontade de comprar esta ou aquela
mercadoria depois do anúncio de uma promoção ou de uma redução de preço? Não
esqueçamos uma terceira forma de mudar o comportamento: os comandos. Quando
alguém nos dá uma ordem, tendemos a acatar. Isso também vale para os pedidos do
dia a dia, que não são diferentes dos favores que nos pedem. A ameaça e a intimidação,
por outro lado, são uma forma de violência. Contudo, sou obrigado a reconhecer
que podem alterar o comportamento da pessoa a quem são dirigidas as ameaças ou
as tentativas de intimidação.
Mensagem: Filmes, peças
teatrais, cartas, músicas, romances, tudo isso são mensagens. A mensagem está
vinculada à função poética. Na
próxima aula, que será um complemento desta, abordarei alguns detalhes de tal
função. Por enquanto, basta saber que se concentra na mensagem e em sua
estética. Nos contos, nos poemas e nos romances, tal função é exercida pelos
literatos, os escritores. Tais textos são a arte da palavra. Existem, é claro,
pessoas que se expressam muito bem quando falam e também quando escrevem, de
modo que é comum que os outros digam que elas falam bonito, mesmo que não seja
esse o objetivo de tais pessoas. Realmente, em tudo existe uma estética, um
senso de beleza: o cosmo (o universo) é feito de coisas sublimes, todavia
também é feito de coisas grotescas. A palavra cosmético vem da palavra cosmo,
e cosmético é tudo que diz respeito à beleza. Mesmo assim não podemos ser tão
imediatistas ou tão apressados: uma parede muito bem pintada pode ser bonita, e
no entanto não é obrigatoriamente uma forma de arte, diferentemente de um
quadro de Da Vinci. Da mesma forma, eu posso me preocupar, como de fato me
preocupo, com meu estilo quando escrevo ao ponto de fazer várias revisões. Isso
prova que me concentro na mensagem que quero produzir para estabelecer
comunicação com meus alunos. Isso, porém, não quer dizer que se trate de poesia
ou de outras formas de literatura (a arte da palavra); portanto, não estou
usando a função poética. Deixemos, pois, esta discussão para os téoricos da
Literatura, para os linguistas e para os literatos (que são os poetas e os
prosadores que fazem ficção).
Canal: É o suporte
físico da mensagem, ou seja: é o meio de comunicação. O médium da comunicação é
o meio pelo qual é estabelecida. Pode ser uma folha de papel, mas também pode
ser o muro de uma cidade. Liga-se à função
fática. Exemplos de canal de comunicação: telefone, televisão, rádio,
papel. Mas o que viria a ser a função fática? Ora, essa função nós usamos
quando testamos o canal de comunicação. Há vários exemplos: quando alguém diz
“alô” pelo telefone, esse alguém está testando o canal de comunicação; quando
eu digo “bom dia, turma”, estou iniciando um cantato, e portanto estou
valorizando o canal de comunicação; se eu digo “oi”, estou interpelando alguém
e, assim, estou construido um contato; quando um palestrante bate no microfone
e diz “um, dois, três... testando... um, dois três...”, ele está se
concentrando no meio de comunicação, por isso, nesse exemplo, assim como nos
anteriores, a linguagem se concentra no meio de comunicação, de modo que a
função que mais se destaca é a função fática. A revista em quadrinhos não é um
gênero: é uma mídia, um médium. Em outras palavras: é um meio de comunicação,
um suporte físico, um veículo de comunicação (existem veículos automotores e
outros tipos de veículo). Trata-se de um veículo por meio do qual as pessoas
leem histórias em quadrinhos. É que a revista contém histórias tanto quanto uma
garrafa contém água potável. Isso quer dizer que é um meio, um canal de
comunicação. O jornal não é um gênero textual: é um veículo ou canal que contém
vários gêneros, tais como a notícia, o artigo de opinião, o editorial, o
anúncio dos classsificados, o anúncio publicitário, etc. Esse raciocínio vale
para o Facebook e o WhatsApp, que, com o hardware adequado, formam o médium, a
mídia ou o meio de comunicação. Ora, o meio de comunicação é o canal da
comunicação. Os recados que enviamos pelo Face
e pelo WhatsApp é que são gêneros
textuais, e não o Face e o WhatsApp em si. Os mangás, que são as
revistas ou os livros em quadrinhos japoneses, são mídias ou canais de
comunicação. Isso quer dizer que o mangá não é um gênero: na verdade, é um
veículo ou canal de comunicação que pode apresentar qualquer um de vários
gêneros, tais como aventura, fantasia, ficção científica, investigação
policial, terror, etc.
Código (ou linguagem): É o conjunto de sinais
(signos) usados para produzir sentido (ou para não produzir sentido nenhum).
Vincula-se à função metalinguística.
Tal função se destaca ou se destaca mais do que todas as outras quando o
assunto da mensagem é a própria linguagem. Neste texto, a função que mais se
destaca é a função metalinguística, pois aqui, assim como em todas as aulas de
Português, o assunto é sempre a língua ou qualquer mensagem que com ela se
produza. Na verdade, em qualquer aula de língua ou línguas prevalece a função
metalinguística; no dicionário também. Mesmo que uma gramática e um dicionário
tenham sido feitos com o objetivo de prestar informações ao consulente (a
pessoa que consulta), neles destaca-se mais a função metalinguística, ainda que
também seja usada a função referencial da linguagem.
Exercícios: [1]
1. A função referencial
a) é usada quando é
valorizado ou iniciado o contato pelo uso do vocativo, como quando alguém diz:
“Oi, Fulano!” (“Fulano” é o vocativo: representa a pessoa a quem se dirige a
palavra). Nota-se também no momento em que se testa o canal de comunicação,
como quando atendemos ao telefone e dizemos: “Alô?”.
b) é a função que se
destaca quando o objetivo principal da mensagem é informar.
c) é a função
predominante quando a intenção principal é a de convencer o receptor ou mudar o
seu comportamento. Tal função se destaca em anúncios publicitários de revistas,
comerciais de televisão, comandos e textos argumentativos.
d) está presente em
discursos em que o emissor revela o seu mundo interior, como acontece em poemas
líricos e em exclamações que escapam da boca de pessoas que levam um grande
susto por uma ação assustadora ou inesperada, como em certas peças de programas
televisivos.
2. A função emotiva
a) é a
função que se destaca quando o objetivo principal da mensagem é informar.
b) é a função predominante
quando a intenção principal é a de convencer o receptor ou mudar o seu
comportamento. Tal função se destaca em anúncios publicitários de revistas,
comerciais de televisão, comandos e textos argumentativos.
c) aparece em
mensagens cujo tema seja a língua ou a linguagem. Nas aulas de Português é a
função que mais se destaca.
d) está presente em
discursos em que o emissor revela o seu mundo interior, como acontece em poemas
líricos e em exclamações que escapam da boca de pessoas que levam um grande
susto por uma ação assustadora ou inesperada, como em certas peças de programas
televisivos.
3. A função conativa ou apelativa
a) é a função predominante quando a
intenção principal é a de convencer o receptor ou mudar o seu comportamento.
Tal função se destaca em anúncios publicitários de revistas, comerciais de
televisão, comandos e textos argumentativos.
b) aparece em
mensagens cujo tema seja a língua ou a linguagem. Nas aulas de Português é a
função que mais se destaca.
c) está presente em
discursos em que o emissor revela o seu mundo interior, como acontece em poemas
líricos e em exclamações que escapam da boca de pessoas que levam um grande
susto por uma ação assustadora ou inesperada, como em certas peças de programas
televisivos.
d) concentra-se na
mensagem e na sua estética.
4. A função fática
a) aparece
em mensagens cujo tema seja a língua ou a linguagem. Nas aulas de Português é a
função que mais se destaca.
b) está
presente em discursos em que o emissor revela o seu mundo interior, como
acontece em poemas líricos e em exclamações que escapam da boca de pessoas que
levam um grande susto por uma ação assustadora ou inesperada, como em certas
peças de programas televisivos.
c) nota-se quando é
valorizado ou iniciado o contato pelo uso do vocativo, como quando alguém diz:
“Oi, Fulano!” (“Fulano” é o vocativo: representa a pessoa a quem se dirige a
palavra). Nota-se também no momento em que se testa o canal de comunicação,
como quando atendemos ao telefone e dizemos: “Alô?”.
d) é a função
predominante quando a intenção principal é a de convencer o receptor ou mudar o
seu comportamento. Tal função se destaca em anúncios publicitários de revistas,
comerciais de televisão, comandos e textos argumentativos.
5. A função poética
a) concentra-se na
mensagem e na sua estética.
b) é a função
predominante quando a intenção principal é a de convencer o receptor ou mudar o
seu comportamento. Tal função se destaca em anúncios publicitários de revistas,
comerciais de televisão, comandos e textos argumentativos.
c) nota-se quando é valorizado ou iniciado o contato pelo
uso do vocativo, como quando alguém diz: “Oi, Fulano!” (“Fulano” é o vocativo:
representa a pessoa a quem se dirige a palavra). Nota-se também no momento em
que se testa o canal de comunicação, como quando atendemos ao telefone e
dizemos: “Alô?”.
d) é a função que se destaca quando o
objetivo principal da mensagem é informar.
6. A função metalinguística
a) é a função
predominante quando a intenção principal é a de convencer o receptor ou mudar o
seu comportamento. Tal função se destaca em anúncios publicitários de revistas,
comerciais de televisão, comandos e textos argumentativos.
b) aparece em
mensagens cujo tema seja a língua ou a linguagem. Nas aulas de Português é a
função que mais se destaca.
c) é a função que se
destaca quando o objetivo principal da mensagem é informar.
d) nota-se quando é
valorizado ou iniciado o contato pelo uso do vocativo, como quando alguém diz:
“Oi, Fulano!” (“Fulano” é o vocativo: representa a pessoa a quem se dirige a palavra).
Nota-se também no momento em que se testa o canal de comunicação, como quando
atendemos ao telefone e dizemos: “Alô?”.
7. Correlacione as colunas
abaixo:
1. Assunto ( ) Pode ser a língua ou outra linguagem.
2. Emissor ( ) É o suporte
físico da mensagem.
3. Receptor ( ) Pode ser um poema, uma pintura.
4. Mensagem. ( ) É
quem escuta, lê ou assiste.
5. Canal ( ) É
quem fala, escreve, etc.
6. Código ( ) É o tema da
mensagem.
RESUMO PARA A REVISÃO
Precisamos ter em mente as informações abaixo:
1. Só há comunicação quando há entendimento mútuo.
2. Tal entendimento é confirmado quando o receptor passa a ser o emissor e
envia uma resposta, também conhecida como feedback.
3. São comuns os mal-entendidos.
4. O interlocutor é a pessoa com quem se conversa.
5. O tema da mensagem é
influenciado pelo contexto, que é a situação comunicativa.
6. A linguagem desempenha mais de uma função sempre; portanto, não é
difícil saber qual função é usada, mas sim saber qual se destaca mais do que as
outras.
7. A função da linguagem está diretamente ligada ao objetivo de quem
estabelece comunicação.
[1] Gabarito: Questão 1: b.
Questão 2: d. Questão 3: a. Questão 4: c. Questão 5: a.
Questão 6: b. Questão 7: 6; 5; 4;
3; 2; 1.
Nenhum comentário:
Postar um comentário